Mulher e política

Hoje – 29 de janeiro – será beatificada na catedral de Santo Estêvão, em Viena, Hildegard Burjan (1883-1933). “Para toda a Áustria e o mundo, Hildegard Burjan é uma figura impressionante, uma mulher que deve ser destacada”, disse o cardeal arcebispo de Viena. A nova beata nasceu em 30 de janeiro de 1883, em Görlitz, uma cidade às margens do rio Neisse, dividida em 1945 em duas partes, na fronteira germano-polaca. É a segunda filha da família judia Freund. Desde jovem, Hildegard se distingue pela abertura aos problemas sociais e pelo espírito livre.

É uma das primeiras mulheres a frequentar a universidade e a primeira a ocupar um assento no parlamento austríaco. Concluiu de forma brilhante os estudos de Filosofia em Zurique, na Suíça, com um doutorado summa cum laude. Após seu casamento, em 1907, com Alexander Burjan, ela se mudou com o marido para Berlim, e depois, em 1909, para a capital austríaca.
Em Viena, Hildegard encontrou grandes contradições sociais. Em vez de fechar os olhos para a miséria, ela começou a se envolver num sério trabalho social, como observadora atenta e crítica da situação intolerável.

Hildegard se juntou a um grupo de mulheres que lutavam pela implementação das ideias formuladas pelo papa Leão XIII em sua encíclica social Rerum Novarum (1891). O compromisso de Hildegard Burjan era profundamente marcado pela fé católica, à qual ela se converteu em 1909, após uma doença grave.

Para o desenvolvimento interior do homem, ela considerava indispensável a liberdade interior e a formação da personalidade. Tinha a convicção de que uma verdadeira assistência social consiste em ajudar os outros a se ajudarem. Para Hildegard, a dignidade do homem estava sempre acima de tudo.

Em 1912, ela fundou a Associação das Trabalhadoras Cristãs Domésticas, e em 1918, reuniu todas as organizações de mulheres operárias na Associação Assistência Social. Também ajudou os famintos de Erzgebirge (região montanhosa de mineração) com uma coleta de alimentos e criou, na região dos Sudetos, uma rede de apoio familiar.

Fiel ao princípio de que a ação social pede a combinação de compromisso privado e político, a Sra. Burjan se lançou na atividade política em 1918, ano do fim da I Guerra Mundial e do colapso do Império Austro-Húngaro. Seu objetivo era alterar permanentemente as estruturas sociais. Sua sensibilidade para com as questões econômicas e sociais do seu tempo era impressionante. O compromisso político da nova beata era focado nas questões sociais.

Hildegard lutava pela igualdade, pelo salário mínimo das trabalhadoras domésticas, pela assistência às pessoas envolvidas em atividades de risco e pelo combate ao trabalho infantil. Sua ação foi decisiva para a política e para as instituições sociais de hoje.

Com a ajuda do prelado Ignaz Seipel, que após a I Guerra Mundial também foi duas vezes chanceler da Áustria, ela fundou, em outubro de 1919, a Sociedade Apostólica das Irmãs da Caritas Socialis. A iniciativa foi motivada pela constatação de que a sociedade precisava de pessoas dedicadas inteiramente à ação social. A congregação gerenciava várias estruturas sociais em Viena, incluindo um albergue para mães e crianças, creches, centros de saúde e clínicas especializadas em idosos e doentes crônicos, além de centros para pacientes que sofriam de Alzheimer e de esclerose múltipla.

Hildegard foi mãe de uma filha, Lisa. Por motivos de saúde, os médicos haviam recomendado um aborto, mas ela se recusou categoricamente. Com seu esforço e exemplo incansável até a morte, em 11 de junho de 1933, Hildegard Burjan criou uma obra que continua atual e ainda será um ponto de referência para as gerações futuras.

Detalhes sobre o programa da beatificação e sobre a vida de Hildegard Burjan estão disponíveis no https://www.hildegardburjan.at/.

 

Dom Anuar Battisti
Arcebispo de Maringá

Fonte: https://maringa.odiario.com/blogs/domanuar/2012/01/30/mulher-e-politica/